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Para Abrir a Casa - Estabelecendo os alicerces de uma iniciativa que significa muito para mim. (#01)

Atualizado: 6 de jun.

Eu gosto de rituais. No seu sentido mais puro eles são como lembretes de decisões que tomamos e valores que escolhemos carregar. Representam a nossa resposta àqueles assuntos que identificamos como importantes e que depois de dedicar-lhes tempo e atenção, estabelecemos um conjunto de mecanismos, símbolos e exercícios para que nos lembrem de nossas decisões e valores e não os negociemos no futuro.


Depois, quando os cumprimos de forma consciente e intencional, eles preenchem de significado nossas ações ao mesmo tempo em que nos protegem, inclusive de nós mesmos. Essa definição também explica, por si, o mal que nos fazem quando os reproduzimos de forma automática e aleatória. Eles cumprem o papel oposto: atuam como paliativos de consciência e esvaziam nossas experiências.


Você já pensou sobre isso?


Eu não estou me referindo apenas aos rituais tradicionais - familiares, religiosos ou culturais - que você traz na sua história. Gosto de pensar naqueles pequenos e pessoais, que você estabelece para si mesmo(a) de forma específica e intencional. Seja um pequeno hábito com significado que você pratica antes de dormir, ou ao acordar; um tempo que religiosamente reserva para si mesmo(a) com um propósito definido; uma atividade especial que mantém com os seus filhos, marido, esposa ou amigos; ou um lugar aonde sistematicamente você vai por uma razão específica, o que importa é que você escolheu este ritual porque ele produz um valor pra você. Um valor que você não quer esquecer. E por isso você o repete.


No meu caso, um dos rituais que mantenho está relacionado ao início de projetos, negócios ou movimentos mais estruturados que faço - e consiste em dois exercícios importantes:


- das primícias, que consiste em fazer uma oferta, não necessariamente financeira, como uma forma de lembrar que por mais valioso que seja aquele novo que estou estabelecendo, ele não deve me possuir ou me conter, nem ser confundido como a fonte da minha provisão, segurança, identidade ou alegria; e,


- dos princípios, no sentido das escolhas e intenções que decido colocar como alicerces para aquela nova iniciativa quando estou diante do primeiro momento da sua existência. Algo como no princípio, os princípios.


Sendo esta a publicação que dá início a este espaço, onde pretendo compartilhar um pouco da minha perspectiva do mundo a partir das lentes únicas pelas quais o vejo, estou aqui para cumprir esse ritual e dividir a escolha de alicerces que fiz para ele.


O primeiro alicerce é a certeza de que independente do que estejamos passando, de quão escuros ou caóticos estejam os nossos dias, ou de quanta incerteza esteja diante de nós; e independente da nossa condição, das experiências ruins que trazemos, das decepções que tivemos ou dos erros que cometemos, há um amor e um cuidado maior, e onde não há falta alguma, que não somente está sobre nós, mas também à nossa frente, e em nós, nos conduzindo em meio ao todo e nos assegurando que jamais estaremos desamparados. Um amor onde não há exceções nem privilégios, que não está limitado pelo tempo nem disponível para barganhas.


Eu não poderia começar por outro lugar que não fosse pela expressão da minha gratidão por este que é o presente mais valioso que já recebi e o recurso mais poderoso que possuo, que tem atravessado o tempo comigo e sido a minha força, vez após vez, a cada desafio e estação. E se eu tivesse apenas este instante da sua atenção e pudesse escolher a contribuição mais valiosa para você levar de tudo isto aqui, sem dúvida seria esta: que a certeza desse amor seja colocada no lugar mais profundo do seu coração, pois não há nada que tenha tamanho poder para ressignificar a sua história.


Só ele é capaz de trocar as lentes através das quais vemos o mundo, as pessoas, o tempo - passado, presente e futuro - e a nós mesmos; e converter nossa murmuração em gratidão e nossa sensação de falta em suficiência. E então, com o coração mais calmo, e ao mesmo tempo despertos sob essa nova perspectiva, nos assombramos com quanta beleza podemos encontrar em tão pequenas coisas; em como os acontecimentos podem se cruzar e se conectar numa imensa teia de significados e propósitos - seja por aquilo que aconteceu exatamente como esperávamos, seja por aquilo que foi o seu extremo oposto; com os encontros e reencontros que a vida nos presenteia; e tanto mais.


Quando isso acontece, nos percebemos dentro de momentos que são de uma outra ordem e dimensão. Momentos que não tem hora, nem lugar, nem regras. Podemos desejá-los e até buscá-los, mas não conseguimos planejá-los, produzi-los nem controlá-los. São eles que nos encontram. E tudo o que podemos fazer quando surgem é nos dedicarmos a eles com gratidão, atenção e reverência. Eles são sagrados. E como manifestações que possuem um componente espiritual, carregam o poder para nos curar, transformar e fortalecer.


Eu sei que essa é uma compreensão que desafia a lógica dominante atual, em que estão tentando nos convencer que somos nós os senhores do tempo, dotados de uma ilusória capacidade de controle, e a fonte de toda provisão que necessitamos - ideias que só produzem ansiedade, frustração, egoísmo e solidão.


Eu sei que encarar a realidade de frente e com os olhos abertos pode ser extremamente duro, constrangedor e, às vezes, até traumático.


E sim, eu também sei que o mundo não estará menos desigual pela nossa convicção a respeito desse amor, que as maldades não cessarão nem os nossos machucados subitamente sararão. Mas se a nossa capacidade de encontrar esperança e beleza na vida estiver condicionada à expectativa de que esses males se findem, ou apoiada sobre nossas próprias forças e algum tipo de infalibilidade da nossa parte, em que maus lençóis estaremos, não é?



Miracle On Your Mind


O segundo alicerce que quero colocar aqui é o motivo que me levou a não adiar mais essa iniciativa. E é o que me levou a escrever de forma pública, não reservada.


Deixe-me explicar:


Eu amo livros. Eu os vejo como janelas preciosas através das quais podemos acessar o melhor que as pessoas têm a dizer. São como repositórios das ideias, experiências, conhecimentos e aprendizados que na maioria das vezes as pessoas levaram anos - e lhes custaram muito - para obter, e que estão ali nos entregando, de forma ordenada, generosa e intencional.


Gosto da maneira como, diferente dos filmes, eles não completam o quadro, deixando espaços para que os preenchamos adicionando tons, nuances, contextos e paisagens, com a nossa imaginação. Além disso, quando lemos, mesmo que em silêncio, é como se ouvíssemos a nossa própria voz, o que confere um caráter pessoal e íntimo para a experiência.


Gosto ainda do que dizia o rabino Shlomo Carlebach, de que apesar de muitos acharem que as histórias servem para fazer dormir, sua maior função, na verdade, é fazer acordar. De que carregam a peculiaridade do protagonista ser uma pessoa genérica, que sou "eu", e de acontecer num tempo indefinido, “era uma vez”, que é “agora” - o que faz com que ao invés de funcionarem como ideias apartadas de nós, elas nos contenham no presente.


Custo a acreditar que alguém escreva um livro e que enquanto o faça tenha a intenção de reter seus conhecimentos, confundir o leitor ou enganá-lo. Penso que um livro pode ser ruim por inúmeras razões, que em geral estão relacionadas ou com a dificuldade do autor em lidar com a verdade do que tem a dizer, ou com a sua falta de atenção e cuidado com a parte técnica da escrita. Mas eu realmente acredito que quando alguém senta para escrever, o faz com o melhor das suas intenções.


Assim, por todo o apreço que tenho por eles, há muito tempo eu cultivo a ideia de que no momento oportuno, em algum dia no futuro, eu escreverei o meu.


Mas há um tempo atrás eu li uma frase, dita por um músico e produtor que admiro, o PJ Morton, quando estava avaliando se ia em frente com uma iniciativa que tinha em mente ou não, e ela me encontrou. Ele disse:


“Eu ia esperar, mas não era sobre mim. Era sobre as pessoas que precisavam disso para ter esperança”.


Ela fez com que eu visse que, para além de janelas e repositório, a minha escrita poderia ser um veículo. Como um repositório ela poderia esperar; como um veículo, não. Porque não era mais sobre apenas compartilhar, mas sobre a possibilidade concreta de te alcançar - e de que isso pode ser relevante na sua jornada de alguma maneira, agora.


Portanto, este é o meu segundo alicerce - e a razão de eu escrever agora: você. Eu escrevo pra você. Isso significa que estou aqui para te oferecer as melhores janelas que eu for capaz, em termos de verdade e empenho ao escrever, mas que meu anseio ao fazer isso é de que as palavras que você encontrar aqui sejam muito mais do que palavras: eu desejo que elas sejam como pequenos fragmentos de vida soprando sobre você. Que elas te façam relaxar enquanto te despertam. Que te levem calor enquanto te iluminam. Enquanto escrevo, desejo conseguir me fazer presente com você. Gosto de pensar que de alguma forma estaremos juntos, estabelecendo o melhor que as boas conversas tem a nos dar e de que desfrutam. Acima de tudo, escrevo desejando que aqueles momentos, carregados com seu componente espiritual, te encontrem.


Ao me conhecer você logo verá que o amor e o cuidado maior, assim como a fonte da certeza sobre os quais me refiro, o meu socorro e o meu abrigo, estão em Deus. Ele, muito mais do que a religião de forma organizada, é a referência em minha espiritualidade - e por essa razão você encontrará aqui muito das minhas reflexões a esse respeito.


Talvez você se identifique com a forma como eu reconheço a Deus. Talvez você acredite em Deus de uma outra forma, ou com outro nome. Ou talvez não acredite de forma nenhuma. Tudo bem. E se você pensa na espiritualidade como a simples crença na conexão, tudo bem também. Como gosto de repetir: eu só espero que isso não nos impeça, pois a riqueza de estarmos juntos será sempre maior do que nossas diferenças.


Recentemente eu li o livro “Cartas a um Jovem Poeta”, um compilado de cartas trocadas ao longo dos anos entre um jovem militar, aspirante a escritor, e aquele que veio a se tornar o seu mestre. Ele é uma verdadeira obra de arte, um arsenal de riqueza, beleza e sabedoria que dificilmente eu serei capaz de absorver em sua plenitude.


Mas o que eu achei interessante notar é que se refletirmos sobre a camada mais fundamental que viabilizou o que aconteceu ali, percebemos se tratar de um encontro que se deu entre duas pessoas. Aquele encontro estabeleceu a estrada através da qual todas aquelas riquezas transitaram e foram transmitidas. Perceba: as riquezas, belezas e sabedorias podem parecer a estrada, mas não são. A estrada é o encontro. Ela foi criada pelo movimento que duas pessoas fizeram, e pavimentada pela intimidade, verdade, confiança, empatia, compaixão etc., além do tempo e da dedicação que foram investidos ali. Sem ela talvez aquelas palavras nunca fossem ditas, aquelas cartas nunca teriam sido trocadas, e aquelas riquezas nunca chegariam até nós.


Então lembre-se: eu escrevo pra você, e o faço com a expectativa que possamos nos encontrar. Como a minha parte da estrada. O meu passo em sua direção.


Me Conta da Tua Janela


Por fim, o terceiro e último alicerce que quero colocar aqui é o da minha escrita como um manifesto de quem eu sou. Tanto das transformações que tive e continuo a ter, como daquilo que o tempo não mudou em mim. Das inadequações que a idade e a maturidade não levaram e que hoje percebo que, na verdade, sempre foram sinalizações a respeito do lugar onde devo estar, além de mecanismos de proteção agindo em meu favor. É a minha forma de dizer que com o mesmo comprometimento e intensidade com que escrevo pra você, eu escrevo sobre mim e sobre o que acredito.


Não vou negar que nesse mundo acelerado e hiper“conectado”, entupido de palavras e informações, às vezes me sinto desestimulado a colocar minha voz. Dá a sensação de que tudo já foi dito - e também a de que está todo mundo falando mas ninguém está escutando. Por vezes também parece que tudo que é criado está sendo levianamente apropriado, distorcido, empobrecido e então enlatado e distribuído. Mas eu sei que isso só é verdade em parte, porque acreditar nisso integralmente seria negar a quantidade gigantesca de conteúdos e expressões maravilhosas a que tenho acesso e que me alimentam, ampliam a minha visão do mundo e me transformam. E seria ignorar que eu sei que uma parcela do meu incômodo é resultado da minha própria inabilidade de transitar nas dinâmicas, velocidades e configurações das relações e conexões atuais.


Seja como for, quando me sinto desestimulado a expressar minha voz, procuro me lembrar do que dizia o professor e escritor americano William Zinsser, que quando seus alunos lhe perguntavam “quem sou eu para dizer o que penso ou o que sinto?”, ele respondia: “Quem é você para NÃO dizer o que pensa e o que sente?!”. “Não há outra pessoa no mundo que pense ou sinta da mesma maneira!”


Portanto, acho que é isso. No amor. Pra você. Sobre mim.


Aqui vou eu. :)


Não Vou Me Adaptar

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Cristo Seja em Mim

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Para Abrir a Casa - Estabelecendo alicerces: no amor. Pra você. Sobre mim. (#1)

photo by Allison Adams

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